
Por que é tão difícil colocar limites nas relações?
Estabelecer limites nas relações não é sobre afastar, rejeitar ou ser egoísta. Pelo contrário: é um gesto profundo de respeito consigo mesma e com o outro. Quando colocamos limites saudáveis, damos um contorno claro à nossa identidade, às nossas necessidades e às nossas emoções. Sem esses contornos, corremos o risco de nos perder no outro, assumir responsabilidades que não nos cabem e adoecer emocionalmente.
Por que temos dificuldade em colocar limites?
Muitas pessoas associam a ideia de limite a conflito ou rejeição. Há um medo inconsciente de magoar, decepcionar ou ser abandonada. Outras se sentem culpadas só de imaginar dizer “não”. Com isso, acabam assumindo mais do que podem dar, se anulam em nome do afeto e vivem em constante estado de alerta emocional.
Do ponto de vista psicológico, essa dificuldade geralmente não nasce no presente. Ela costuma estar enraizada em experiências antigas de invalidação, negligência emocional ou padrões familiares disfuncionais, onde a pessoa aprendeu, por exemplo, que ser “boazinha” é o caminho para ser aceita.
A TCC compreende que os nossos comportamentos estão diretamente ligados à forma como pensamos. Quando alguém tem dificuldade em estabelecer limites, frequentemente há crenças disfuncionais e distorções cognitivas atuando nos bastidores.
Veja alguns exemplos comuns:
Distorções cognitivas que dificultam o posicionamento emocional:
Essas distorções alimentam o medo de se posicionar e geram sentimentos como culpa, ansiedade, vergonha ou confusão. Muitas vezes, o comportamento final é de submissão, fuga ou explosão emocional, formas disfuncionais de lidar com a tensão dos limites não ditos.
A TCC ajuda a pessoa a identificar esses pensamentos automáticos, questioná-los e substituí-los por formas mais realistas e saudáveis de pensar, o que leva naturalmente a um comportamento mais assertivo e respeitoso com seus próprios limites.
Na Terapia do Esquema, olhamos mais profundamente para os padrões emocionais que se formaram na infância e moldam a forma como a pessoa se comporta nas relações. Pacientes com dificuldades de impor limites geralmente apresentam esquemas precoces desadaptativos, como:
- Esquema de Subjugação: A pessoa se anula para evitar conflitos. Tem dificuldade de dizer o que sente ou pensa por medo da reação do outro.
- Esquema de Autosacrifício: Sente que precisa cuidar de todos, mesmo à custa do próprio bem-estar. Tem dificuldade de dizer “não” porque acredita que o outro sempre vem primeiro.
- Esquema de Inibição Emocional: Aprendeu que demonstrar sentimentos ou expressar vontades pode ser perigoso ou vergonhoso. Então, evita se posicionar para não parecer “demais”.
Esses esquemas atuam como “lentes emocionais” por onde a pessoa enxerga o mundo. Mesmo quando a realidade atual não exige submissão ou sacrifício, ela continua reagindo como se estivesse em um ambiente ameaçador ou invalidante.
A Terapia do Esquema ajuda a reconhecer esses padrões profundos, ressignificá-los e desenvolver modos saudáveis de funcionamento emocional, como o Modo Adulto Saudável, que aprende a se proteger sem se isolar e a se conectar sem se abandonar.
Muitas pessoas acreditam que colocar limites pode prejudicar vínculos afetivos. Mas a verdade é que relações saudáveis só são possíveis quando cada um conhece e respeita os próprios limites e os do outro.
Limites claros trazem previsibilidade, segurança e autenticidade para os relacionamentos. Eles ensinam ao outro como nos tratar e criam espaço para o afeto crescer sem sobrecargas emocionais.
Aprender a dizer "não", pedir espaço, expressar o que machuca ou o que não é mais tolerável é um ato de coragem e maturidade emocional.